às vezes ao
passar enfio
as mangas
nas maçanetas
ou melhor
as maçanetas
nas mangas
não é
surrealismo
é distração
diria Freud
talvez
que assim
preso concretizo
o limbo que
sou
terra de
ninguém
ambiguidade
sem remédio
inexpugnável outro
*
compro um regador de latão
recuso o saco
levo-o na mão
olham-me estranhamente
eis sem o saco
um homem transparente
*
agora há na cidade um sistema
de bicicletas partilhadas
usamos arrumamos respeitamos
e elas ali continuam disponíveis
viagem após viagem
aguardando nova vida
pena assim não ser
com as almas
*
homem sem
utopias
cínico
homem de uma
só utopia
totalitário
mais vale
aguardar
lutar com
pequena grandeza
e nos
intervalos
quando a
desistência ameaça
obter ânimo no sushi all you can eat
olhar o mundo
com a alma
porque às
vezes um verso
esconde-se vadio
entre os
sacos do supermercado
perceber
enfim
é divina a
transitoriedade
e uma dádiva
o poema
que em
território inóspito sem hora marcada
enfrenta
corajoso a angústia