confissão
admito: antes
de devolver à biblioteca
um livro novo,
fico com o marcador:
âncora de um
vestígio,
derradeiro
grito de permanência.
*
da cura
angústia
deixo que te
sentes no sofá da sala
mas já não te
ofereço o corpo
*
promessa
há ainda mais dias
com o sol nas mãos
a praia entrará no peito
e a rosa das águas
será ave longínqua
dirás
que bem que cheiram
as folhas do eucalipto
responderei
que o odor é só
o silêncio
que nossos corpos habitam
*
ego
na tasca, um velho
gaba o seu passado.
exagera e exorta
escamoteando que a realidade –
esse uno insondável a que resistimos –
sem ele prosseguirá.
de súbito, compreendo:
tão ridículo quanto este homem antigo
que sonoramente proclama o seu passado
é este homem que escreve
e tantas vezes em silêncio
proclama o seu futuro.