sábado, 4 de maio de 2024

desde um sábado bracarense, porque não só de apresentação de manuais escolares se faz a vida




confissão

admito: antes de devolver à biblioteca
um livro novo, fico com o marcador:

âncora de um vestígio,
derradeiro grito de permanência.


*


da cura

angústia
deixo que te sentes no sofá da sala
mas já não te ofereço o corpo



*



promessa

há ainda mais dias
com o sol nas mãos

a praia entrará no peito
e a rosa das águas
será ave longínqua

dirás
que bem que cheiram
as folhas do eucalipto

responderei
que o odor é só
o silêncio
que nossos corpos habitam



*



ego

na tasca, um velho
gaba o seu passado.

exagera e exorta
escamoteando que a realidade –
esse uno insondável a que resistimos –
sem ele prosseguirá.

de súbito, compreendo:
tão ridículo quanto este homem antigo
que sonoramente proclama o seu passado
é este homem que escreve
e tantas vezes em silêncio
proclama o seu futuro.