sexta-feira, 20 de setembro de 2019

david, da vida, duvida, dúvida







Tiro a senha, espero
pelo registo criminal;
vem limpo, como sempre.

E esta angústia, as mágoas
que criei, o que quis ser
e não sou, em que parte de mim
registo estes pequenos crimes?




*




Quando entro no quarto devagar
e enquanto dormes tiro a roupa
e fico nu, em pé, quieto,
e tudo está escuro
e quase nenhum barulho vem lá de fora,
quem é este homem que em vão tenta
observar-te,
quem sou eu quando assim
me ignoro?





quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Múltiplos eventos diários de índole diversa








Acaba a final da Taça,
buzinas invadem as ruas.

A minha alegria é vã:
nada há de melhor nos verdes
que nos azuis, exceto
eu ser dos verdes.

Festejo, finto a insignificância
e remato a angústia que,
como bom guarda-redes,
agarro sempre de volta.



*



Da beleza, não conheço a essência,
mas a circunstância: deitada, de manhã,
olhas-me nos olhos e adormeces.



*


O casal de idosos
lê um jornal após outro
na mesa de uma esplanada.

Calados, partilham somente 
quietude e notícias.

A sua presença acusa:
a minha correria afugenta
esse encontro em que o tempo
é só um virar de página.